sábado, 21 de junho de 2014

Expedição Rondon-Roosevelt: 100 anos de uma aventura na Amazônia


Margem do antigo Rio da Dúvida renomeado por Rondon como Rio Roosevelt - 1914

Parte 1 – Estratégia

São muitos os questionamentos sobre tamanha façanha de um ex-presidente americano que se aventurou na região do atual Estado de Rondônia. Um homem habituado a tomar decisões que afetavam a vida de muitos compatriotas quando ainda era presidente da nação americana. Agora, em meio a grande floresta Amazônica, tal personagem teria sido reduzido a um encarcerado de uma prisão inglória com animais selvagens, povos indígenas, insetos e trilhas desconhecidas. As decisões que anteriormente eram tomadas na Casa Branca quando ainda era presidente do Estados Unidos, e afetavam diretamente o mundo através do Imperialismo Americano, agora definiriam a sobrevivência de um aventureiro que um dia fora poderoso, e na floresta será um simples mortal diante das surpresas que um ambiente selvagem e desconhecido lhe reservava.

Ex-presidente americano Roosevelt

Para muitos, Marechal Rondon teria sido vítima de uma ordenação e obrigação de acompanhar o Presidente Theodore Rooselvet na sua empreitada no vasto desconhecido da Amazônia. Com muita desconfiança e desconforto Cândido Rondon segue na missão de apresentar o “Eldorado Verde” ao celebre visitante. Desconfiança oportuna já que Rondon não se alegrava nos interesses e cobiça internacional pela riqueza da nossa floresta, ainda sendo o visitante o autor da política imperialista americana conhecida de Big Stick.
Enfim missão dada para Rondon será sempre claro missão cumprida. O grande personagem dos rincões da Amazônia será o guia do audacioso homem norte-americano que dizia não temer a floresta. Mal sabia ele as surpresas que lhe eram reservadas.

Análise dos mapas por Roosevelt devidamente protegido dos mosquitos
Paralelamente a organização da Expedição Rondon-Roosevelt a construção das Linhas Telegráficas na Amazônia iniciadas em 1907 pelo próprio Marechal Rondon, eram questionadas por autoridades e políticos brasileiros, devido seu alto custo. Somado a isso, Rondon tinha noção de que a construção da linha telegráfica provavelmente acabaria por estancar durante os setes meses e meio em que ele integraria a expedição. Justificaria em parte sua decisão mencionando a publicidade que sua participação nas atividades de Roosevelt traria para o projeto telegráfico. Acertara na sua posição, pois os jornais do Rio de Janeiro fizeram grande alarde em torno da expedição e das obras do telégrafo de Rondon por meses a fio. Além disso, a imprensa dera cobertura integral às conferências sobre a viagem que Theodore Roosevelt proferiu em junho de 1914 na Inglaterra, e também à publicação do relato de Roosevelt sobre a expedição.

Acampamento das Linhas Telegráficas - Rondon
Mas só a publicidade não concluiria a construção da linha. Por isso, Rondon voltou imediatamente ao noroeste do Mato Grosso (Rondônia) para comandar a arrancada final das obras.
Desde outubro de 1913, viajara até o Rio de Janeiro, voltara para Mato Grosso e conduzira a expedição de Roosevelt ao rio da Dúvida. Agora, voltava para terminar as obras, com o pensamento fixo na data da inauguração, que fora adiada para 1° de janeiro de 1915. Enquanto Theodore Roosevelt descansava em seu camarote no transatlântico, e depois em sua casa em Oyster Bay, Nova York, Cândido Mariano da Silva Rondon voltava a embrenhar-se na bacia amazônica para iniciar a fase mais difícil e crucial da construção do telégrafo.
Durante a Expedição Roosevelt era o comandante titular, e Rondon não tinha escolha a não ser respeitar a vontade do americano. Assim, recordaria mais tarde, respondeu a Roosevelt que estavam ali para acompanhá-lo e guiá-lo pela selva e que executariam os serviços de acordo com sua vontade. E concluiria que, por essa razão, o levantamento prosseguiu sem que pudessem obter todos os benefícios dos recursos técnicos que dispunham e com os quais haviam realizado um trabalho suficientemente exato e correto.
Roosevelt e Rondon

Ainda no Rio de Janeiro onde o presidente americano desembarcara, Rondon propôs ao Roosevelt a exploração do Rio da Dúvida em vez de uma simples caçada no noroeste brasileiro, e Theodore aceitou a proposta com entusiasmo. Rondon tinha quase certeza de que esse rio desaguava no Madeira, mas seu curso ao norte nunca fora mapeado ou explorado, o que explica seu nome. Para chegar ao rio, a expedição primeiro partiria do posto de abastecimento da comissão em Tapirapuã até a linha telegráfica em Utiariti. Em seguida, os homens acompanhariam a linha telegráfica por aproximadamente 250 quilômetros até as cabeceiras do Rio da Dúvida. Esse novo e decididamente itinerário preocupou o ministro das Relações exteriores, Muller, que alertou Roosevelt sobre os perigos. Afinal, durante a jornada o presidente completaria 55 anos.

Acampamento da Expedição - 1914

Durante a aventura na Amazônia de Rondônia, os insetos e as doenças estarreceram os americanos. Nuvens de praga exasperavam os homens. Borrachudos, abelhas Lambe-suor e maribondos picavam-nos por cima dos chapéus e das luvas. Carrapatos cobriam-lhes as roupas. Formigões de três centímetros de comprimento tinham uma ferroada “parecida com a de um escorpião pequeno”, Roosevelt reclamou.

Roosevelte em Conferência Científica na Inglaterra - 1914
Em 26 de abril de 1914 o exausto grupo aproximou-se da confluência dos rios Aripuanã e Dúvida. Rondon rebatizara este último com o nome de Roosevelt. Ali as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos tremularam no alto do acampamento comandado pelo tenente Pirineus de Sousa. Em 59 dias, os membros da expedição haviam percorrido cerca de 640 quilômetros. Tolhidos pelas corredeiras, haviam levado 48 dias para avançar pelos primeiros 270 quilômetros. Agora, bebiam e banqueteavam com a comida que o grupo auxiliar do tenente Pirineus lhes trouxera.


Em 30 de abril membros da expedição foram a Manaus via Rio Madeira, e ali médicos brasileiros providenciaram tratamento para uma das pernas ferida de Roosevelt.
Rondon voltou ao Rio de Janeiro no início de 1915, foi aclamado por seus esforços tanto na expedição Rondon-Roosevelt e na construção das Linhas Telegráficas e, para platéias lotadas, fez conferências empolgantes sobre as heróicas realizações da comissão.
    

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87

Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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