sexta-feira, 11 de julho de 2014

Santo Antônio de muitas Histórias

Área portuária de Santo Antônio do Alto Madeira - 1915
Em Santo Antônio do Madeira desde 25 de janeiro de 1873 já havia uma Mesa de Renda para cobrança de impostos e, em 7 de julho de 1891 fora estabelecida a coletoria, seguindo-se a criação e instalação da comarca, com seu primeiro Juíz de Direito, o Dr. João Chacon. Lembrando os nomes do PE. João Sampaio, missionário jesuíta do século XVIII, de Félix de Lima, de Severino da Fonseca e outros, rasgaram-se as ruas, praças e avenidas em plena floresta. Não havia esgoto, nem água canalizada, nem iluminação de qualquer natureza, onde o gado era abatido em plena rua à carabina e as porções não aproveitadas, abandonadas no próprio local, onde monte de lixo e de todos os produtos da vida vegetativa eram atirados às vielas esburacadas ou apoiados às paredes das habitações, onde pântanos perigosos proporcionavam aluviões de anofelinos a espalhar a morte por todo o povoado.
Marco Divisório em Santo Antônio (fonte: Manuel Português)
Santo Antônio foi elevado a município em 1908, mas só em 1912 deu-se a instalação; eis que sob a liderança do primeiro prefeito municipal, Dr. Joaquim Augusto Tanajura, tenente médico baiano da Força Policial, que acompanhara como médico a Comissão Rondon de 1909. Em Santo Antônio a vida tornava-se mais humana: já havia iluminação elétrica, cogitava-se a instalação de uma biblioteca, enquanto “O Bilontra” (tipo de jornal mural) colado nos muros substituía o jornal cotidiano. Logo de início abriu-se uma escola e planejava-se importante estrada de rodagem, embora pequena. No entorno da localidade, continuava a presença dos índios.
O autor de “Desbravadores” às págs. 215 e seguinte do primeiro volume, assim descreve Santo Antônio:
“Gente de todo mundo acabava de chegar – fazia anos! – à margem da primeira cachoeira inferior do rio Madeira. Brasileiros vindos de quase todos os pontos do país, ingleses, italianos, espanhóis, peruanos, bolivianos e portugueses”
Santo Antônio do Alto Madeira- 1921
A região era ocupada por uma população ondulante, instável, de aventureiros aliciados para um trabalho que oferecia todas as probabilidades da desventura. Fracassados na vida, audaciosos e viciados, aumentavam ao sabor das condições econômicas. O dia escoava-se ao ritmo do trabalho; a noite, ao ritmo da algazarra, da música, dos gritos e discussões em uma dúzia de línguas nos botequins, casas de jogo e de tolerância. Estas, eram numerosas: as francesas chegadas de Paris alinhavam-se com as brasileiras, as espanholas e bolivianas, de permeio aos homossexuais e pederastas.
Força Estadual na Vila de Santo Antônio (Fonte: Manuel Português)
Bebia-se champanhe, cerveja e aguardente. Comia-se peixes do rio Madeira e as mais finas conservas nacionais e estrangeiras. As brigas eram freqüentes, os crimes comuns, lê-se no 1° Livro de Ofícios do Arquivo do município de Santo Antônio: uma verdadeira “currutela” (pequena vila com comércio), dir-se-ia hoje em termos de garimpo.
Assim é que, não obstante a passagem benéfica de Oswaldo Cruz ( o município aduirira dez mil cápsulas de quinino), o Livro de Óbitos evidencia que era alto o índice de mortes, sobretudo crianças, causados por Beribéri e o impaludismo.
O autor de “Desbravadores” lembra ainda que, contra tantas adversidades, vingara a idéia da edificação de uma capela, “Não fora convicção, se-lo-ia ao menos para querer imitar as outras terras civilizadas”.
Em todo caso, em meio aquela multidão de homens sem nenhuma instabilidade, havia uns poucos bem intencionados. Em 1919 era Prefeito o Dr. José Adolfo de Lima, tendo como vereadores de sua Câmara Municipal, Salustiano Alves Correia (presidente), João Ranulto Brasil, João L. de Souto, Boaventura S Rolim, Manoel S. dos Santos, José F. da Conceição e Raul Arantes Meira.
Hoje, a localidade de Santo Antônio é sombra de um passado movimentado. História esquecida e abandonada por gerações, onde poucos sonhadores ainda lutam por seu resgate, revitalização e preservação do patrimônio histórico. Se no distante passado, os gestores e políticos de época buscavam solucionar os problemas da localidade com o intuito de seu desenvolvimento, hoje, a geração política nem se constrange em negar o passado, fechando os olhos para a identidade local, lugar que foi o primeiro núcleo habitacional a margem direita do Rio Madeira, marco de ocupação da região de Porto Velho, vergonhosamente abandonado no presente, foi glória no passado, talvez esquecida no futuro.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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